Pato Branco – A partir do dia primeiro de dezembro mais uma leva de empresas serão obrigadas a adotar a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e). Conforme o presidente do Sindicato dos Contabilistas de Pato Branco e Região (Siconp), Sérgio Bebber, até essa data todas as empresas que realizam transações comerciais para fora de seu Estado ou com órgãos públicos, terão de se adequar à legislação e implantar o sistema de emissão da NF-e. “Independente do tamanho ou do faturamento da empresa”, explica. No entanto, para as pequenas e micro empresas a obrigatoriedade vem gerando problemas, já que muitas não possuem nem mesmo computador e quando há o equipamento, não há pessoal qualificado para operar o sistema.
Além disso, para algumas o investimento na estrutura necessária não compensa a baixa movimentação de mercadorias. Este é o caso da empresa de Josafat Martenozetko, proprietário de uma pequena empresa que comercializa materiais de construção. A sede do estabelecimento fica numa sala alugada e é o próprio empresário quem cuida da administração da empresa. Além dele são quatro funcionários, dois motoristas e dois entregadores. “Eu não sei lidar com o sistema e está muito difícil de encontrar funcionários capacitados para trabalhar dentro das condições de uma pequena empresa”, argumenta.
Ele explica que chegou a buscar informações sobre os custou para a adequação da loja e implantação da NF-e. “Apenas a instalação do programa custaria R$ 1.000,00 mais R$ 280,00 mensais. Eu acredito que incluindo os equipamentos eu gastaria entre R$ 4 e R$ 5 mil”, argumenta. Martenozetko diz que pensa em parar com a atividade diante das exigências que vem se impondo ao setor.
Contraponto
Enquanto algumas empresas enfrentam dificuldades, outras percebem oportunidades na exigência da NF-e. Para o funcionário do setor financeiro de uma empresa que vende peças para instalações hidráulicas, Ricardo Zanchettin, a obrigação da instalação do sistema dificulta a sonegação de impostos e isso faz com que as empresas consigam competir de maneira igualitária. “Acho que isso vai fazer com que apenas empresas sérias permaneçam no mercado”, diz.
Como a empresa já sabia da necessidade do sistema, pois a NF-e está em implantação gradativa desde 2007, a direção fez uma programação para investimentos periódicos e contínuos. “Há cerca de quatro meses instalamos um novo servidor, também não houve a necessidade de trocarmos o programa que utilizamos, pois ele já era compatível com a emissão das Notas Fiscais Eletrônicas”, explica Zanchettin.
Mesmo assim, a opção por tecnologias modernas e ágeis, que possibilitam a emissão das NF-e de maneira mais rápida, elevaram o custo de instalação do sistema para cerca de R$ 10 mil. Embora a obrigatoriedade de emissão das NF-e para a empresa inicie no início de dezembro, desde a semana passada o documento já está sendo emitido no estabelecimento. Como já haviam funcionários capacitados para usar o sistema, não houve dificuldades com a operação da estrutura que “não apresentou nenhum problema até o momento”, conforme Zanchettin.
Entidades do setor contábil confirmam dificuldades e benefícios
O presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado do Paraná (Sescap-PR), Mauro Kalinke, explica que atualmente a obrigatoriedade da NF-e já atinge praticamente todos os setores do comércio atacadista e da indústria. Para ele, a questão da digitalização dos processos contábeis é uma tendência e deve ser ampliado progressivamente.
O presidente vê vantagens no sistema, como a economia, no caso de grandes empresas, com a impressão de blocos de notas, pois com as NF-e não existe a necessidade do documento impresso. Já no caso das pequenas empresas ele aponta a estruturação do estabelecimento como um aspecto positivo, já que a implantação da NF-e, as pequenas empresas acabam tendo um controle detalhado de tudo o que entra e sai da empresa, o que atualmente nem sempre acontece.
“Muitos empresários vêem a implantação do sistema como um custo, eu acho que é um investimento para a qualificação da empresa”, diz. A organização em torno de entidades de classe, com o propósito de se buscarem alternativas economicamente viáveis para a operação dos sistemas e treinamento dos recursos humanos são sugestões de Kalinke para amenizar os impactos da exigência sobre as pequenas empresas.
O presidente do Siconp, Sérgio Bebber, concorda com essas vantagens, mas assinala que para as pequenas empresas, muitas vezes, os custos são significativos. “É preciso que quando as leis sejam criadas se avaliem os impactos, pois corre-se o risco de prejudicar uma camada empresarial que contribui muito com a sociedade”, explica. Ambos afirmam, no entanto, que o controle da sonegação se torna muito eficaz com a NF-e, o que de maneira geral é positivo para as esferas governamentais. Com esse sistema o fisco é informado da transação comercial no momento de emissão da nota.
Tendência
Para quem imagina que essa exigência é complexa, é bom ir se acostumando com a idéia, já que a tendência é que no futuro o controle contábil deverá ser todo digitalizado. Uma das novidades para 2011 deve ser a implantação do Conhecimento de Transporte Eletrônico no Paraná, a exemplo do que já existe em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. A partir do próximo ano algumas empresas também já terão a Escrituração Fiscal Digital, que eliminará os tradicionais livros fiscais. Outro projeto que está em discussão é o Cupom Fiscal Eletrônico.
Região
Em Dois Vizinhos a prefeitura implantou um sistema de nota fiscal de serviço eletrônica. Trata-se de medida padrão que vem sendo adotada em todo o Brasil. O município figura entre os cinco primeiros a implantar esta tecnologia no Estado. "É uma necessidade pela agilidade e organização que demanda o fisco, quer municipal, bem como das próprias empresas" afirma o Diretor de Tributação Laudecir Jankoski.
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Legenda – Blocos de notas fiscais estão com os dias contados, tendência é a digitalização
Olho: Em Dois Vizinhos a prefeitura implantou um sistema de nota fiscal de serviço eletrônica
Fonte: Diário do Sudoeste 18/11/2010 Caderno Geral p. A5